As principais aldeias da vertente oriental da Serra de Arga e o seu espaço agrícola adjacente desenvolvem-se, em regra, à cota dos 400 – 550 metros, na base do maciço granítico central, num nível de rechãs, de terreno menos acidentado e maior fertilidade. Os núcleos rurais de Arga de Cima, Arga de Baixo e Arga de S. João obedecem à lógica da aglomeração do povoamento serrano e possuem habitações cuja traça respeita as características da arquitetura tradicional do Alto Minho, de dois pisos e sobrado, o superior habitacional, o inferior ocupado pelas as cortes dos animais, às quais se anexa o terreiro, a eira e os tradicionais espigueiros. Toda a paisagem humanizada serrana é rendilhada, na envolvente destas aldeias, pelos típicos muros de vedação, em xisto e granito, que encerram as leiras férteis rasgadas pelos inúmeros ribeiros. De destacar no acesso pedonal a Arga de Cima, o Caminho das Leiras, estrutura elevada num caminho de pé posto sujeito a alagamento, proporcionando uma passagem para acesso a campos de cultivo.
Os espigueiros desempenham um papel fundamental na economia tradicional da Serra de Arga. Destinados ao armazenamento e conservação das espigas de milho, a sua dimensão indicia as condições económicas dos seus proprietários. Também eram, outrora, designados no Alto Minho por caniço, termo empregue principalmente na Serra de Arga e noutras áreas de Caminha e Viana do Castelo. Na Serra de Arga são tradicionais os espigueiros com o corpo inteiramente de pedra, nomeadamente nas Argas de Cima e de Baixo. O clima serrano favorece a diaclase tabular do granito e a fracturação do xisto, proporcionando uma grande abundância de lajes naturais, que permitem a construção de espigueiros integralmente de pedra. Frequentemente, o trabalho de alvenaria é mínimo e não há qualquer regularidade no modo de ligação e forma das diversas peças (DIAS, et al., 1963).
Na área envolvente das aldeias, localizam-se as parcelas de agricultura de subsistência, onde o regime de policultura se caracteriza pela conjugação das culturas permanentes e temporárias, com destaque para as hortícolas e cerealíferas. Em muitos casos, as parcelas culturais expandem-se para a base das vertentes, através de socalcos.
A maioria dos solos com aptidão agrícola existentes nestas rechãs está relacionada com a erosão do granito de grão grosseiro do enorme batólito da Serra de Arga que se destaca na paisagem. Os cursos de água entalhados nas vertentes graníticas desfrutam de grande disponibilidade de material para transportar, favorecendo assim a deposição de sedimentos fluviais nas áreas de menor declive situadas a jusante, proporcionando a fertilidade dos solos. A importância do maciço granítico central da Serra de Arga enquanto área de infiltração e acumulação de água, evidencia-se através de numerosos sistemas de moinhos hidráulicos em cadeia que aproveitam pequenos ribeiros que descem as vertentes graníticas desde o planalto, destacando-se a sequência dos moinhos do Covão /Reconco e de Meijão de Água.
Observam-se ainda nestas aldeias diversos exemplares da casa agrícola tradicional serrana do Alto Minho, construída predominantemente por granito e carvalho, que associa a habitação familiar e as funções agrícolas. A arquitetura vernacular dita que as casas sejam de planta retangular e geralmente compostas por dois pisos baixos. O andar superior, destinado à habitação, geralmente possui um sobrado. O piso térreo alberga as cortes do gado, arrumos para as alfaias agrícolas e, por vezes, o celeiro. Uma escada de pedra de um só lanço sobe ao longo da fachada até à varanda, coberta com alpendre, dando acesso ao sobrado. Na Serra de Arga, as varandas, para proteger do frio, são frequentemente baixas e vedadas, e estreitos os respiros e os postigos. A cobertura típica, geralmente de duas águas pouco inclinadas, é de telha caleira ou, nos casos mais rústicos, de colmo e giesta. À volta da casa dispõe-se a eira, as medas ou moreias, o poço, as cortes e os inseparáveis espigueiros, frequentemente em granito, seguindo o modelo da Galiza. As variações locais ao modelo da casa típica da região do Minho explicam-se fundamentalmente por diferenças de riqueza dos proprietários ou questões climáticas. Nas aldeias da Serra de Arga, os sobrados eram mais baixos e fechados para proteção contra o frio, com aberturas estreitas e janelas.
A ocupação antrópica desta área da Serra de Arga remonta à Idade do Ferro, sendo influenciada não só pela existência de condições propícias à prática agrícola, a nível morfológico, edáfico e de disponibilidade hídrica, bem como pela presença de jazidas minerais em Arga de Baixo, Arga de Cima e Estorãos, nomeadamente nos lugares de Cavalinho, Cova dos Mouros e Cerquido.
DIAS, Jorge; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando (1963). Sistemas primitivos de secagem e armazenagem de produtos agrícolas: Os espigueiros portugueses. Instituto de Alta cultura, Centro de estudos de etnologia peninsular, Porto. https://books.openedition.org/etnograficapress/6642#ftn1