Antiga azenha, construída entre os séculos XIX e XX. Este engenho de moagem, hoje em ruínas, terá correspondido a uma azenha de roda exterior vertical, que aproveitava a energia hidráulica para a transformação dos cereais em farinha.
Na bacia hidrográfica do rio Lima, encontram-se dois tipos de moinhos de água, os de roda horizontal ou rodízio, que predominam nos cursos de água de montanha, e os de roda vertical, denominados de azenhas, geralmente localizados em áreas de planície.
As azenhas de roda exterior vertical são construções maior dimensão do que os moinhos de rodízio, apresentando boa alvenaria e, frequentemente, telhado de duas águas, servindo frequentemente de residência do moleiro. Localizam-se no curso final dos rios de maior caudal. O aproveitamento da energia cinética da água é potenciado através de um açude ou represa, que a armazena e conduz o caudal para uma comporta. A água é dirigida de forma a bater nas pás da roda no ponto e na intensidade certas, para que o impacto impulsione a rotação. O movimento vertical da roda é multiplicado através de um sistema de rodas dentadas, que transformam cada volta vertical da roda da azenha em seis voltas horizontais da mó, imprimindo-lhe maior potência e velocidade.
O moinho de água, e dentre estes o moinho de rodízio, invenção grega, foi de longe o mais disseminado sistema de moagem no rio Lima e seus afluentes. Segue-se a azenha de roda vertical, também conhecida como moinho romano, de invenção mais recente (século I a.C.).
A azenha, inspirada no ancestral sistema da nora persa, muito utilizada antigamente para a captação da água, surge, pela primeira vez, citada na obra De Architecture, de Vitrúvio (século I a.C.).
Embora os autores clássicos e a arqueologia confirmem a presença destes engenhos de moagem nas províncias ibéricas do Império Romano, sobretudo em várias partes da Lusitânia e da Bética, Brochado de Almeida et al. (2009) considera improvável a sua presença no norte da Península, nomeadamente nos antigos territórios pertencentes a Bracara, Lucus e Asturica, não sendo conhecidos vestígios arqueológicos destas estruturas com datação romana. Nos níveis arqueológicos romanos e altimedievais das estações arqueológicas da bacia do Lima encontram-se essencialmente moinhos manuais rotativos. Somente em plena Idade Média, as Inquirições de 1220 e 1258 confirmam a ampla dispersão do moinho de água na Ribeira Lima.
A partir dos finais da época moderna, ocorrem importantes transformações da paisagem agrícola. A revolução do milho, isto é, a disseminação do milho maiz e do trigo, e o emprazamento de áreas baldias com o intuito de se aumentar a área cultivável, sobretudo no reinado de D. Maria I, contribuíram para o crescimento da produção cerealífera e consequente aumento do número dos engenhos de moagem. Datam deste período a maior parte dos moinhos de água que encontramos na bacia do rio Lima.
O cadastro de moagens do Arquivo Hidrográfico do Porto regista, nos anos quarenta do século XX, cerca de 2041 engenhos de moagem de cereais na bacia hidrográfica do rio Lima. Integrados no concelho de Ponte de Lima, contavam-se cerca de 246: 231 moinhos e 15 azenhas. Na margem direita do Lima, Estorãos encontrava-se entre as freguesias com maior número de engenhos, cerca de 21, 18 dos quais moinhos de água e 3 azenhas, localizadas nas margens do rio Estorãos (GONÇALVES, 2013).
ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado; GONÇALVES, Mário (2007 - 2013). Inventário dos moinhos de água e de vento, engenhos e lagares de azeite, in Cadernos Vianenses, tomos 42-47, Viana do Castelo.
ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado; ALMEIDA, Pedro Brochado (2009). Sítios que fazem História: Arqueologia do Concelho de Viana do Castelo II – Da Idade Média à Actualidade, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Viana do Castelo.
BOTELHO, João Alpuim (2009). Do que falamos, quando falamos de moinhos? MEA LIBRA, Revista de Cultura, III série, nº 3, Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo.
GONÇALVES, Mário Carlos Sousa (2013). O pão na Região do Lima: Estruturas e sistemas primordiais-das origens à Idade Média, Tese de Mestrado em Arqueologia, Universidade do Porto, Porto.
OLIVEIRA, Ernesto Veiga; GALHANO, Fernando; PEREIRA, Benjamim (1983). Sistemas de Moagem – Tecnologia Tradicional Portuguesa, Instituto Nacional de Investigação Científica/ Centro de Estudos de Etnologia, Lisboa.